Decreto Federal nº. 6.861, de 27.05.2009: Dispõe sobre a Educação Escolar Indígena,
define sua organização em territórios etnoeducacionais, e dá outras providências.
Fonte: Administração do Site, DOU, Seção I, de 28.05.2009.
Pg 23 e 24. 28/05/2009
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso
IV, e tendo em vista o disposto no art. 231, ambos da Constituição, e nos arts.
78 e 79 da Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, na Lei nº. 10.172, de 9 de
janeiro de
2001, e no Decreto nº. 5.051 de 19 de abril de 2004,
D E C R E T A :
Art. 1º A educação escolar indígena será organizada com a participação dos povos
indígenas, observada a sua territorialidade e respeitando suas necessidades e especificidades.
Art. 2º São objetivos da educação escolar indígena:
I - valorização das culturas dos povos indígenas e a afirmação e manutenção de sua
diversidade étnica;
II - fortalecimento das práticas socioculturais e da língua materna de cada comunidade
indígena;
III - formulação e manutenção de programas de formação de pessoal especializado,
destinados à educação escolar nas comunidades indígenas;
IV - desenvolvimento de currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos
culturais correspondentes às respectivas comunidades;
V - elaboração e publicação sistemática de material didático específico e diferenciado;
e
VI - afirmação das identidades étnicas e consideração dos projetos societários definidos
de forma autônoma por cada povo indígena.
Art. 3º Será reconhecida às escolas indígenas a condição de escolas com normas próprias
e diretrizes curriculares específicas, voltadas ao ensino intercultural e bilíngue
ou multilíngue, gozando de prerrogativas especiais para organização das atividades
escolares, respeitado o fluxo das atividades econômicas, sociais, culturais e religiosas
e as especificidades de cada comunidade, independentemente do ano civil.
Art. 4º Constituirão elementos básicos para a organização, a estrutura e o funcionamento
da escola indígena:
I - sua localização em terras habitadas por comunidades indígenas;
II - exclusividade de atendimento a comunidades indígenas;
III - ensino ministrado nas línguas maternas das comunidades atendidas; e
IV - organização escolar própria.
Parágrafo único. A escola indígena será criada por iniciativa ou reivindicação da
comunidade interessada, ou com sua anuência, respeitadas suas formas de representação.
Art. 5º A União prestará apoio técnico e financeiro às seguintes ações voltadas
à ampliação da oferta da educação escolar às comunidades indígenas, entre outras
que atendam aos objetivos previstos neste Decreto:
I - construção de escolas;
II - formação inicial e continuada de professores indígenas e de outros profissionais
da educação;
III - produção de material didático;
IV - ensino médio integrado à formação profissional; e
§ 1º O apoio financeiro do Ministério da Educação será orientado a partir das ações
previstas e pactuadas no plano de ação de cada território etnoeducacional, previstos
nos arts. 6º, 7º e 8º, e veiculadas pelo Plano de Ações Articuladas - PAR de que
trata o
Decreto nº. 6.094, de 24 de abril de 2007.
§ 2º As ações apoiadas pelo Ministério da Educação deverão estar em conformidade
com as diretrizes curriculares nacionais da educação escolar indígena, estabelecidas
pelo Conselho Nacional de Educação.
Art. 6º Para fins do apoio de que trata o art. 5º, a organização territorial da
educação escolar indígena será promovida a partir da definição de territórios etnoeducacionais
pelo Ministério da Educação, ouvidos:
I - as comunidades indígenas envolvidas;
II - os entes federativos envolvidos;
III - a Fundação Nacional do Índio - FUNAI;
IV - a Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena;
V - os Conselhos Estaduais de Educação Escolar Indígena; e
VI - a Comissão Nacional de Política Indigenista - CNPI.
Parágrafo único. Cada território etnoeducacional compreenderá, independentemente
da divisão político-administrativa do País, as terras indígenas, mesmo que descontínuas,
ocupadas por povos indígenas que mantêm relações intersocietárias caracterizadas
por raízes sociais e históricas, relações políticas e econômicas, filiações lingüísticas,
valores e práticas culturais compartilhados.
Art. 7º Cada território etnoeducacional contará com plano de ação para a educação
escolar indígena, nos termos do art. 8º, elaborado por comissão integrada por:
I - um representante do Ministério da Educação;
II - um representante da FUNAI;
III - um representante de cada povo indígena abrangido pelo território etnoeducacional
ou de sua entidade; e
IV - um representante de cada entidade indigenista com notória atuação na educação
escolar indígena, no âmbito do território etnoeducacional.
§ 1o Serão obrigatoriamente convidados para integrar a comissão os Secretários de
Educação dos Estados, do Distrito Federal e Municípios, sobre os quais incidam o
território etnoeducacional.
§ 2º A comissão poderá convidar ou admitir outros membros, tais como representantes
do Ministério Público, das instituições de educação superior, da rede de formação
profissional e tecnológica, além de representantes de outros órgãos ou entidades
que desenvolvam ações voltadas para a educação escolar indígena.
§ 3º A comissão deverá submeter o plano de ação por ela elaborado à consulta das
comunidades indígenas envolvidas.
§ 4º Será assegurado às instâncias de participação dos povos indígenas acesso às
informações sobre a execução e resultados das ações previstas nos planos.
§ 5º A comissão elaborará suas normas internas de funcionamento e reunir-se-á, no
mínimo semestralmente, em sessões ordinárias, e, sempre que necessário, em sessões
extraordinárias.
§ 6º A comissão acompanhará a execução do plano e promoverá
sua revisão periódica.
Art. 8º O plano de ação deverá conter:
I - diagnóstico do território etnoeducacional com descrição sobre os povos, população,
abrangência territorial, aspectos culturais e lingüísticos e demais informações
de caráter relevante;
II - diagnóstico das demandas educacionais dos povos indígenas;
III - planejamento de ações para o atendimento das demandas educacionais; e
IV - descrição das atribuições e responsabilidades de cada partícipe no que diz
respeito à educação escolar indígena, especialmente quanto à construção de escolas
indígenas, à formação e contratação de professores indígenas e de outros profissionais
da educação,
à produção de material didático, ao ensino médio integrado à educação profissional
e à alimentação escolar indígena.
Parágrafo único. O Ministério da Educação colocará à disposição dos entes federados
envolvidos equipe técnica que prestará assistência na elaboração dos planos de ação
e designará consultor para acompanhar sua execução.
Art. 9º A formação de professores indígenas será desenvolvida no âmbito das instituições
formadoras de professores e será orientada pelas diretrizes curriculares nacionais
da educação escolar indígena.
§ 1º Os cursos de formação de professores indígenas darão ênfase à:
I - constituição de competências referenciadas em conhecimentos, valores, habilidades
e atitudes apropriadas para a educação indígena;
II - elaboração, ao desenvolvimento e à avaliação de currículos e programas próprios;
III - produção de material didático; e
IV - utilização de metodologias adequadas de ensino e pesquisa.
§ 2º A formação dos professores indígenas poderá ser feita concomitantemente à sua
escolarização, bem como à sua atuação como professores.
Art. 10. A produção de material didático e para-didático para as escolas indígenas
deverá apresentar conteúdos relacionados aos conhecimentos dos povos indígenas envolvidos,
levando em consideração a sua tradição oral, e será publicado em versões bilíngües,
multilíngües ou em línguas indígenas, incluindo as variações dialetais da língua
portuguesa, conforme a necessidade das comunidades atendidas.
Parágrafo único. As propostas de elaboração e produção de material didático para
as escolas indígenas apoiadas com recursos do Ministério da Educação serão submetidas
à análise e aprovação de comissão instituída para apoio à produção de material didático
indígena.
Art. 11. As propostas pedagógicas para o ensino médio integrado à formação profissional
dos alunos indígenas deverão articular as atividades escolares com os projetos de
sustentabilidade formulados pelas comunidades indígenas e considerar as especificidades
regionais e locais.
Art. 12. A alimentação escolar destinada às escolas indígenas deve respeitar os
hábitos alimentares das comunidades, considerados como tais as práticas tradicionais
que fazem parte da cultura e da preferência alimentar local.
Art. 13. As despesas da União com educação escolar indígena correrão à conta das
dotações orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação, devendo
o Poder Executivo compatibilizar a quantidade de projetos a serem aprovados com
as dotações orçamentárias existentes, observados os limites estipulados pelo Poder
Executivo, na forma da legislação orçamentária e financeira.
Art. 14. O Ministério da Educação coordenará a implantação, o acompanhamento e a
avaliação da educação escolar indígena, respeitada a autonomia e mantidas as responsabilidades
e competências dos entes federativos.
Art. 15. O § 2º do art. 11 do Decreto nº. 5.773, de 9 de maio de 2006, passa a vigorar
com a seguinte redação:
"§ 2º A instituição que oferecer curso antes da devida autorização, quando exigida,
terá sobrestados os processos de autorização e credenciamento em curso, pelo prazo
previsto no § 1º do art. 68." (NR)
Art. 16. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 27 de maio de 2009; 188º da Independência e 121º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Tarso Genro
Fernando Haddad
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