Contribuições para o estudo da desatenção e dos comportamentos hiperativos
Silvana Tuleski e Hiluska Alves Leite – Universidade Estadual de Maringá - UEM

Resumo: O mini-curso tem como objetivo apresentar a concepção predominante a respeito do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade abordando questões como etiologia do transtorno, sintomas, diagnóstico e tratamento. A intenção é fazer a crítica a esse entendimento hegemônico que compreende os problemas de desatenção e comportamentos hiperativos unicamente como decorrentes de desajustes no organismo do sujeito. Além disso, pretendemos alertar para os altos índices de prescrição de medicamentos para o tratamento dos casos de indivíduos diagnosticados como portadores de TDAH, prescrições estas que muitas vezes são feitas com base em diagnósticos muito superficiais e beneficiam, sobretudo, a indústria farmacêutica. Tais medicamentos são de venda controlada e apresentam uma série de efeitos colaterais e, especialmente quando prescritos para crianças, podem trazer como consequência a estigmatização desta junto à escola e aos colegas.
A proposta de contraposição parte do entendimento de como se desenvolve a atenção voluntária nos indivíduos. A atenção voluntária é a capacidade que temos de focar nossa atenção somente ao que é necessário para o cumprimento de uma determinada tarefa e prescindir dos demais estímulos. Partimos do entendimento que o não desenvolvimento deste tipo de atenção, ou falhas nesse desenvolvimento implica no que hoje se reconhece hegemonicamente como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.
Pretendemos discorrer como se desenvolvem as funções superiores em geral, detendo-se mais aprofundadamente na atenção voluntária, tendo como norte teórico a Psicologia Histórico-Cultural. Tal concepção teórica entende que o homem reflete em maior ou menor grau a sociedade da qual faz parte, ou seja, suas funções superiores se desenvolvem em estreita vinculação com a apropriação dos instrumentos e signos dispostos em seu ambiente cultural. Assim, ao se discutir “falhas” na atenção ou no controle do comportamento, é preciso ponderar, antes de tudo, quais as reais possibilidades de desenvolvimento da atenção no atual estágio de organização social.

Referências:

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